quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014




ACONTECIMENTOS ENTRE 1450 E 1499
B1–Malha urbana da Lisboa Medieval (Pub. por A. H. de Oliveira Marques / Iria Gonçalves / Amélia Aguiar Andrade, Atlas de Cidades Medievais Portuguesas, Lisboa, INIC, 1990, pp. 58-59) [Clique para ampliar]
B1–Malha urbana da Lisboa Medieval (Pub. por A. H. de Oliveira Marques / Iria Gonçalves / Amélia Aguiar Andrade, Atlas de Cidades Medievais Portuguesas, Lisboa, INIC, 1990, pp. 58-59) [Clique para ampliar]
Se bem que de forma tímida, ao longo da segunda metade de Quatrocentos a população de Lisboa parece finalmente entrar num processo de crescimento irreversível. Tal deve-se, em grande medida, à afirmação da cidade como capital do reino e à atracção que, como tal, exercia sobre gentes oriundas de todos os pontos de Portugal e dos outros reinos europeus. Para tudo isso concorria o dinamismo económico imprimido pela colonização dos arquipélagos atlânticos, pela exploração da costa ocidental africana, mas também pela expansão militar para o norte de África e pelas oportunidades que daí advinham. Não admira que a população da cidade aumente a olhos vistos, ainda que não ao ponto de suscitar a criação de novas paróquias, que se mantêm as mesmas 23 registadas em 1321.

É na zona ribeirinha que todo este dinamismo se manifesta de modo mais visível: a criação de um novo arsenal, a instalação da Casa de Arguim e da Guiné e a construção de novas infra-estruturas de apoio às tercenas que, por seu lado, se vão estendendo ao longo da Ribeira, são apenas alguns dos seus sinais mais visíveis. É também esta a zona mais procurada da cidade, tanto para habitação quanto para o exercício de actividades comerciais ou artesanais, daí que os preços das casas suplantem os das de outras zonas da urbe. Talvez por isso sejam tomadas medidas no sentido de fomentar a urbanização dos terrenos existentes em redor do perímetro urbano de Lisboa. Só assim seria possível acompanhar o crescimento populacional da cidade. Contudo, continuavam a existir, no interior da Cerca Fernandina, inúmeros espaços livres. Só que, em vez de os ocuparem, os lisboetas preferiam construir em altura nas zonas mais nobres da cidade, como a Rua Nova, onde a maior parte dos edifícios atingiam os quatro pisos.
B2–O Termo de Lisboa depois do redimensionamento de 1495 (Pub. por Maria Teresa Campos Rodrigues, Aspectos da Administração Municipal de Lisboa no Século XV, Separata da Revista Municipal nº 101 e 109, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1968, p. 25)
B2–O Termo de Lisboa depois do redimensionamento de 1495 (Pub. por Maria Teresa Campos Rodrigues, Aspectos da Administração Municipal de Lisboa no Século XV, Separata da Revista Municipal nº 101 e 109, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1968, p. 25)
Talvez por não se verificar qualquer alteração significativa nas formas de ocupação do espaço, a cidade permanece, em meados de Quatrocentos, com as mesmas características de há centenas de anos: vias estreitas, ziguezagueantes e sujas, que se apresentavam enlameadas no Inverno e poeirentas no Verão; edifícios distribuídos de forma desordenada e que – apesar de crescerem também em altura –, sempre que possível, cresciam em extensão, roubando espaço às ruas e praças. 

De facto, as principais alterações introduzidas, durante a segunda metade de Quatrocentos, na fisionomia da capital resultam não de um novo ordenamento urbano, mas da preocupação crescente com a melhoria das condições sanitárias da cidade, um problema constante, mas agravado durante os surtos pestíferos verificados entre 1457 e 1496.

São, assim, implementadas medidas como a criação de locais específicos para o despejo dos lixos, a limpeza regular das ruas ou a melhoria do sistema de recolha de detritos urbanos. Paralelamente à ampliação da escassa e insuficiente rede de esgotos da cidade, assiste-se também à alienação, por parte do município, da posse dos terrenos que bordejavam o enorme esgoto a céu aberto que corria da zona do paço dos Estaus em direcção ao Tejo, para que fosse canalizado e coberto por novos edifícios.

 Intimamente ligada à melhoria das condições sanitárias da cidade, mas também um claro sinal da preocupação crescente, por um lado, com a estética urbana e, por outro, com a melhoria das condições de circulação viária, a colocação de lajes no pavimento da Rua Nova é, sem dúvida, uma das obras mais emblemáticas de todas quantas foram empreendidas na capital durante a segunda metade de Quatrocentos. Mas Lisboa vê também a sua fisionomia alterada a uma outra escala com a realização de outro tipo obras e das quais se destacam a ampliação da igreja do mosteiro de Santo Elói, a reconstrução do mosteiro do Salvador, o início da construção do mosteiro de Santa Maria de Belém e do mosteiro de Santos-o-Novo, ou a criação do grande Hospital de Todos-os-Santos.

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