quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014



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ACONTECIMENTOS ENTRE 1925 E 1949
Fotografia aérea do instituto Superior Técnico em construção, Pinheiro Correia, [c. 1934], Arquivo Municipal de Lisboa, AFML – A30641 (Clique para ampliar)
Fotografia aérea do instituto Superior Técnico em construção, Pinheiro Correia, [c. 1934], Arquivo Municipal de Lisboa, AFML – A30641 (Clique para ampliar)
A Lisboa da segunda metade dos anos 20, e das décadas de 30 e 40 foi traçada pelas mãos dos arquitectos Cristino da Silva, Pardal Monteiro, Continelli Telmo, Carlos Ramos e Cassiano Branco. São os tempos da arts decó, da modernidade e dos planos urbanísticos de Duarte Pacheco/Gröer. Neste período de evolução da cidade podemos estabelecer três fases distintas:
- de 1925 a 1930;
- anos 30;
- anos 40.
De 1925 a 1930, a cidade cresceu desordenadamente. Os tempos ressentiam-se da depressão pós-guerra. Lisboa era uma cidade secundária no plano europeu. Desta época podemos destacar o projecto do cinema Capitólio, no Parque Mayer, da autoria de Cristino da Silva (1925), o Instituto de Oncologia concebido por Carlos Ramos (1927), nesse mesmo ano o arrojado projecto do Instituto Superior Técnico, do risco de Pardal Monteiro (1927-30) e no ano seguinte, também da sua mão é edificada a Estação do Cais do Sodré. Contudo os magazines do anos 20 consideravam a cidade de Lisboa votada ao abandono e suja. As críticas severas à gestão urbana do município levaram a Câmara Municipal de Lisboa a nomear uma comissão de estudo para estabelecer um plano de desenvolvimento urbanístico, efectuando consultas aos urbanistas estrangeiros J. C. Forrestier (1928) e A. Agache (1933).
Os anos 30 marcam uma mudança na construção da cidade. Lisboa, em 1930, tinha 592.000 habitantes. Viveram-se nesta década os anos áureos do modernismo nacional. Ao lado de boas construções licenciadas por arquitectos de renome, foram edificados numerosos prédios por mestres de obra. A tradicional arquitectura de ferro e madeira foi sucedida pelo betão armado. Desenvolveu-se a zona poente do Parque Eduardo VII. No início dos anos 30 foi projectado o Bairro Azul e abriu-se a Avenida Álvares Cabral. Os seus inquilinatos eram de luxo, de rendas elevadas. Em Telheiras ergueu-se um bairro modernista de moradias pré-fabricadas. Na zona do Arco do Cego edificou-se uma bairro de moradias de luxo, obra paralela à edificação do Instituto Superior Técnico terminado em 1930, gerando a urbanização da zona. Cassiano Branco idealiza o Cine-teatro Éden (1930-37). Surgem vários cinemas na cidade, tais como o Trianon/Avis, o Lys/Roxy, o Europa e o Paris. Continelli Telmo risca a Estação Sul Sueste (1931). Procedeu-se à inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra (1931). Entre 1931-35 construiu-se o Instituto Nacional de Estatística, obra de Pardal Monteiro. Cristino da Silva elaborou planos para o Parque Eduardo VII (1932). Em 1934, foi inaugurado o Monumento ao Marquês de Pombal, na Rotunda. De 1934-36 edificou-se a Casa da Moeda. Obra marco do modernismo lisboeta foi a Igreja de Fátima, delineada por Pardal Monteiro, construída entre 1934-38. A Câmara, em 1934, lançou um concurso para regularizar a fisionomia arquitectónica do Rossio. Este houvera sido alvo de projectos de vários arquitectos desrespeitando o seu valor histórico, em nome da modernidade. A publicidade luminosa foi substituída por neóns (1934). Cassiano Branco projectou o Hotel Vitória (1936), erguido na Avenida da Liberdade. O Bairro Salazar de rendas económicas elevou-se em 1937.
Nos anos 40 sob o Ministério das Obras Públicas de Duarte Pacheco e a sua presidência da Câmara Municipal de Lisboa estabeleceu-se o Plano Gröer, incidindo na construção de radiais, circulares, viadutos, auto-estrada, aeroporto, marginal, saída Norte, abastecimento de água, áreas residenciais e equipamentos. Em 1938, Duarte Pacheco recorreu à consulta do urbanista Etiene Gröer, traçando o dito plano entre 1938-40, sendo este aprovado em 1948. Esta nova linha de intervenção acarretou a expropriação de 1/3 dos terrenos rurais da cidade. A capital tinha, em 1940, 694.000 habitantes. A grande construção deste período foi o Bairro de Alvalade (1945), englobando diversos tipos de habitação unifamiliar e prédios colectivos, complementados com escolas, jardins, centro cívico e pólo desportivo. Foram abertas as Avenidas de Roma, E. U. A., Igreja, António Augusto Aguiar e Sidónio Pais. As edificações oficiais da época obedeciam a uma monumentalidade, a uma arquitectura de cariz tradicional, sacrificando as tendências modernista da época anterior, sendo exemplo desse gosto oficial os prédios das Avenidas António Augusto de Aguiar e Sidónio Pais, da responsabilidade de Cristino da Silva. Datam desta década os bairros modestos, de rendas económicas da Encarnação (1940-43), Madre de Deus (1939-1944), Caselas (1946-49), Alto da Ajuda (1938-1940), Alto da Serafina (1933-1938), Caramão da Ajuda (1947-49), Santa Cruz de Benfica (1944-1958), Calçada dos Mestres (1940-43), destinados a uma população pequeno burguesa. Para a população de rendimento baixo, pobre adoptou-se a construção de bairros de casa desmontáveis de placas de fibrocimento, como é o caso da Boavista (1938), Quinta da Calçada (1938), e Furnas. A sua precariedade conduziu, a partir de 1945-46, aos bairros para alojamento de famílias pobres inseridos nos planos de urbanização, inicialmente com casas unifamiliares, evoluindo para prédios colectivos. Crucial, nesta época, foi a Exposição Universal do Mundo Português, em torno da qual se desenvolveu o Bairro do Restelo com moradias modestas e luxuosas e a Praça do Império, com a sua grande Fonte luminosa. O gasómetro foi retirado da zona da Torre de Belém. Foram efectuados restauros na Sé e no Castelo de São Jorge. O Plano Gröer embora se dê por concluído em 1948, na realidade foi continuado na década seguinte pelo Gabinete Técnico de Urbanização sob a orientação do engenheiro Guimarães Lobato.
Bibliografia
FERREIRA, Vítor Matias – Lisboa evolução: De Ressano Garcia a Duarte Pacheco in Dicionário da História de Lisboa. Sacavém: Carlos Quintas & Associados-Consultores, lda. 1994, p. 526-528. ISBN 972-96030-0-6
A cidade modernista in FRANÇA, José-Augusto – Lisboa: urbanismo e arquitectura. 5.ª edição. Lisboa: Livros Horizonte. p. 83-91. ISBN 972-24-0998-0.
A cidade dos Estado Novo e da II República in FRANÇA, José-Augusto – Lisboa: urbanismo e arquitectura. 5.ª edição. Lisboa: Livros Horizonte. p. 93-108. ISBN 972-24-0998-0.
FERNANDES, José Manuel – Lisboa no século XX. O tempo moderno in O Livro de Lisboa. Lisboa: Lisboa Capital Europeia de Cultura, 1994, p. 493-518. ISBN 972-24-0880-1.

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